"Teste" Especial DOIS.
Em termos de grandeza, são dois os tipos de leitores da AUDIO: os que buscam conhecimento da ‘arte’ de ouvir música em conserva e aqueles que desejam saber das últimas novidades em equipamentos eletrônicos. Na edição de janeiro/fevereiro desde ano, por exemplo, das 98 páginas da revista, cerca de 45 foram utilizadas com matérias para conhecimento [artigos e testes] e 43 com divulgação de novidades. Isso pode querer significar que a maioria dos nossos leitores busca conhecimento.
{Assim, pois, um pouco de neurociência não fará mal a ninguém: a busca pela novidade é compulsão [excitação] da conta do segundo fundamental neurotransmissor do nosso neocórtex, o glutamato; já a indiferença [inibição] pelas novidades é da conta do neurotransmissor GABA [e não sei porque se escreve em maiúsculo]; portanto, fundamentalmente o ser humano é um misto de excitação e inibição. Outros comportamentos secundários são da responsabilidade de transmissores “ [...] como a serotonina, norepinefrina, acetilcolina, dopamina [...]” etc. O neurocientista prêmio Nobel de Medicina, Francis Crick [obrigado mais uma vez, Jorginho [Jorge Miguel], pelo “astonishing” presente; e continuo no aguardo do livro do neurocientista lusitano, António Damásio: “Emoção, Razão e o Cérebro Humano]. Ora, Meu Querido Amigo do além-mar, estou na marca do pênalti para transformar-me em cinzas mas AINDA continuo interessadíssimo em saber O QUÊ de fato SOMOS.] Continuo com Francis Crick: “Provavelmente, tais transmissores implementam processos bastante gerais, como manter o córtex desperto, ou dizendo-lhe quando recordar qualquer coisa [...]. E lá mais na frente, no Capítulo 8 sustenta [ele próprio ‘astonished’]: “Para muitas pessoas, trata-se de uma ideia muito estranha. O ‘mundo’ encontra-se fora do nosso corpo e, no entanto, noutro sentido [aquilo que sabemos dele], encontra-se completamente dentro de nossa cabeça. Isto também é verdade para o corpo. Aquilo que você sabe dele não se encontra ligado a sua cabeça, encontra-se dentro da cabeça.” Ou, com outras palavras, e já parodiado Crick: ‘aquilo que ouvimos não é o som que está ali realmente; é o som que o nosso cérebro acredita estar.’} Daí porque volto ao assunto do som musical captado do ‘stream’ que em brasileiro e na língua audiófila traduzimos como ‘nuvens’. Em outro artigo tratei do ‘stream’... do ‘streaming’, ou seja, de ouvir música através do computador e da memória ‘ram’ e não de ‘todo’ o computador e a partir de um ‘streamer’; e baseei meus argumentos arguindo ‘a menor distância’... reconheço, uma ‘falácia’ técnica. Então pensemos: para efeito de compreensão digamos que a memória ‘ram’ encontre-se ao meio do caminho do trajeto da corrente de áudio do computador mas... cáspite! ainda que desse ponto [ou estágio] fonte e placa mãe e placa de som etc. CONTINUAM e ESTÃO no circuito de áudio! Ora, se a ‘melhora’ constatada [e É REAL!] se devesse ‘a menor distância’ ou do fato de se ter ‘by-passed’ ponto ou pontos do circuito de áudio - possivelmente ‘contaminados com espúrios transitórios e circunstanciais’ – ainda assim tal baipasse não eliminaria a contaminação... Ou eliminaria, Engenheiro Jorge Gonçalves? Ou a ‘melhora’ teria sido ‘criada’ pelo neurotransmissor glutamato [excitação] atuando no hemisfério esquerdo do ‘meu’ cérebro já quase centenário; hemisfério esse que, segundo o neurocientista indiano Vilayanur Ramachandran, “[...] tem a função de dar coerência lógica às informações que lhe são transmitidas pelo direito. Nessa função de organização das informações [...] não deixa penetrar “ [...] informações que lhe possam desarrumar a estrutura estabelecida. Esse sistema constitui o conjunto [...]” de nossas crenças, constituindo a nossa verdade como inteligentemente observa o metapsicologista brasileiro Victor Andrade. Será o caso? Ainda porque o que ouvimos como ‘melhora’ não é o som de SÓ uma parte do CIRCUITO; é o som que foi produzido por TODO o circuito eletrônico do computador e ‘gerado’ [descodificado neurologicamente] nas nossas cabeças... audiotas. Mas isso não importa muito, se alguma coisa; como o ‘enganado’ somos nós e não outros, e se a enganação nos infunde maior prazer ao escutar música a partir da memória ‘ram’, pois, pois, continuemos ouvindo... Mas o que não é enganação de neotransmissor algum são dois fatos objetivos: praticidade e catolicidade. De um lado temos o prazer de ouvir nossos ‘amados’ discos SEM as inevitáveis nefastas influências da acústica dos nossos ambientes; visto que não há acústica perfeita; claro, desde que aceitemos a constatação do saudoso Engenheiro Amar Bose: 89% do som que nos chega aos ouvidos, é refletido [isto é, depende do grau de reflexão do ambiente], e apenas 11%, direto; e como não existe sala PERFEITA... [quem não se lembra do caso do teatro de ópera dos bilionários Rockfeller, em Nova Iorque, que foi inaugurada ‘numa dada noite’ com a Missa de Leonard Bernstein ‘in memoriam’ a John Kennedy e fechado na manhã seguinte ‘por sérios problemas de acústica’ [tinha até eco duplo!]; fechamento que durou quase DEZ ANOS! E após dez anos transcorridos, depois de radical transformação tornou-se a conhecida e ótima sala ‘Lincoln Center’, SETE VEZES menor em número de assentos [é? ‘quid abundat nocere’, o que abunda não prejudica? Pois sim...]. Meus velhos e gastos ouvidos anciãos conseguem [ainda] constatar diferenças de mínimos detalhes entre o som escutado da memória ‘ram’ e o mesmo som escutado do total do computador; mínimos detalhes que, para meu prazer de ouvir música, não prejudica; pelo contrário... E com ‘pelo contrário’ desejo expressar o seguinte: o som de ‘todo o computador’ se me afigura mais, mais, pois é, mais musical, quero dizer, mais natural [ou da natureza] enquanto o da memória ‘ram’ se me afigura algo ‘assepético’ em demasia [ou de hospital]; e para mim essa assepsia retira algo da realidade musical dos recintos fechados com seus quase imperceptíveis mas inevitáveis ruídos característicos. {Ruídos característico remetem-me ao ‘crime de estupidez’ das autoridades cearenses que determinaram tampar com vidro plano de grosso calibre toda a extensão da divisão externa do teatro, englobando a plateia e a balconagem, dantes de ferro fundido, vazado, com desenhos figurando galhos de árvores e arbustos, situação peculiar que lhe proporcionava quase NÃO TER superfícies refletoras, e, em consequência, desfrutar da MELHOR acústica entre todos os teatros oficiais do Brasil, com índice de ressonância em torno de DOIS segundos [!!!], semelhante ao índice de ressonância do Concertgebouw, de Amesterdam. A administração do teatro, por mim perguntada, alegou que os ruídos da praça onde o teatro está localizado adentravam seu recinto, prejudicando os concertos e espetáculos; de outra parte, alegou também que, devido ao forte calor que faz em Fortaleza [média de 30°C], era necessário pôr ar-condicionado... como se ar-condicionado não pudesse servir a ambientes abertos... ora, era só questão de potência: dimensionar corretamente a capacidade em BTUs do aparelho de ar condicionado... e quanto à zoeira provinda da praça, bastava a aplicação da lei de silêncio já existente. Facim, facim.} Continuemos nosso assunto: em outras palavras: da memória ‘ram’ ouve-se o som que os maestros ouvem, e de todo o computador, o som que se ouve da plateia. Mais ou menos isso. [Aliás, eu já tivera experiência – quando estive durante três meses em Porta Alegre – de escutar a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre [OPA] – eu sentado próximo dos músicos, no palco; e não gostei: ganha-se em mínimos detalhes mas perde-se a noção do conjunto. E é coisa parecida, bem semelhante de como a diferença entre o som da memória ‘ram’ e o som do computador total, ou seja, particular versus geral; palco ou plateia. Lembrete: quase mesma situação que ocorre entre o som musical via DAC valvulado e ou via DAC do estado sólido; entre o DAC Behringer U-Phoria UM202HD, transistorizado, e o DAC HIFIMan EF2C da BW, valvulado. Aquele é ‘analítico’ ao extremo – remete-nos à situação de laboratório [ou a do maestro] - e esse, menos ‘analítico’, menos laboratório, mais plateia. # Situação duvidosa é inerente ao ser humano; Freud classificou-a de ‘neurose primária’: ao nascermos, e diante de um Mundo diverso, colocam-se para o nascituro três possibilidades, todas três diferentes e opostas da situação nirvânica uterina em que viveu nove meses: ou aceita o Mundo tal qual é, ou revolta-se contra esse Mundo, ou foge dele. Freud disse que o comum é o ‘mix’ dessas três reações, ou seja, hora aceita, hora reage e hora foge dele; e está plantada a árvore da neurose humana. Cada um em dado grau, somos todos ‘maluquinhos’. Como ‘maluquinho’ tenho me mostrado ser... desde quando escrevi, já faz algumas décadas, meu primeiro texto para esta AUDIO com o título: ‘Alta-fidelidade de quê?’ E agora, passados mais de trinta anos, venho com essa lenga-lenga de som da memória ‘ram’, desmemoriado que manifesto ser; ou neurótico primário. E tenho dito. Holbein Menezes 20 nov. 2022 |