Charlie Haden,
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Se você já teve oportunidade de ouvir e ver um músico de jazz tocando contrabaixo, com toda a sensualidade que esta cena transmite, o baixista abraçando e acariciando seu instrumento, você há de concordar comigo: o nome “contrabaixo” ou mesmo “baixo” não corresponde àquela enorme caixa de madeira, quatro cordas grossas, formas femininas, cujo som é, geralmente, percebido inconscientemente pelo ouvinte. Em inglês, chamam de “bass”, talvez um pouco melhor, já que não existe uma palavra homônima naquela língua que parece diminuir sua importância. Mas deixe isso de lado e, na sua próxima audição de um disco de jazz, atente um pouco mais para esse instrumento. Como ? Basta deixar a música entrar em sua alma.
Geralmente, o baixo só é notado quando ele não está presente. A música fica sem volume, como uma balão vazio, como um bolo sem fermento. Você logo percebe algo estranho. Por quê? Porque o contrabaixo é responsável pelo aveludamento da música. Como se o baixista acariciasse seus ouvidos preparando-os para os acordes dos outros instrumentos. Uma base indispensável onde os outros músicos deitam (e rolam).
Mas vou levantar uma outra questão. Se o baixo tivesse sexo, seria um instrumento macho ou fêmea ? Com certeza você seria induzido a dizer que o baixo é um instrumento “macho”. Mas não é! É um instrumento que remete o músico a uma relação passional. É tratado sempre com muito carinho pelo seu parceiro musical. O músico, literalmente, toca-lhe abraçando-o e em contato corporal semelhante à posição quando se abraça uma mulher amada. Suas formas são de curvas femininas como uma tela de Portinari. Por isso defendo que o baixo é um instrumento feminino. Interessante é que não são muito poucos os registros na historia do jazz de uma grande baixista mulher. Talvez a mais evidente, hoje, seja a baixista que vem acompanhando Pat Metheny
a australiana Linda May Han Oh. Quase sempre esses instrumentos são tocados por homens que os têm como um “ser” especial. Ver um baixista fazer suas evoluções no instrumento é ter a certeza que ele está tendo um prazer tal qual o orgasmo.
Isso tudo você poderia ter sentido se tivesse tido a oportunidade de ter contato com Charlie Edward Haden. E isso poderia ter acontecido de várias formas. Participando de um dos festivais de jazz ao redor do mundo. No teatro mais charmoso de Nova Iorque, o Carnegie Hall. Na Califórnia, cidade de Santa Mônica, onde morava e recebia os amigos. Assistindo às suas aulas que ele ministrava no Thelonious Monk’s Institute, em Los Angeles. Em performances do seu Quartet West ou da sua Liberation Music Orchestra. Ou ainda em shows de Ginger Baker ou do artista pop Reckie Lee Jones, onde ele participava como sideman. Se você não teve nenhuma das chances acima, vá a uma loja de discos e compre um dos seus mais de 100 títulos em catálogo, em duos, trios, quarteto ou orquestra, ponha no seu CD player e aproveite. Ou, mais modernamente, busque em sua plataforma de streaming.
Charlie Haden foi um fenômeno. Baixista, americano pai de 3 filhas (Rachel e Petra - que tocam baixo e violino em grupos alternativos de rock - e Tanya – que toca cello) e um filho (Joshua – baixista e compositor). Nascido em 6 de agosto de 1937, na pequena cidade de Shenendoah, Estado de Iowa, aos 4 anos mudou-se para uma fazenda em Springfield, no Missouri, onde iniciou seu contato com a música. Ainda criança, junto com a família, participava de um programa semanal de música country, numa rádio local. Sua mãe também costumava levá-lo à igreja. Lá ele ouvia fantásticos coros gospels, fato que até hoje ele considera como um dos mais importantes em sua vida musical. Aos 14 anos escolheu o baixo como seu instrumento.
Mudou-se para Los Angeles nos anos 50 e passou a apresentar-se com Art Pepper, Hampton Hawes e Carla Bley. Entrou para o polêmico grupo de Ornette Coleman em 1959, quando realizou sua primeira gravação. Na verdade, Charlie Haden foi o primeiro instrumentista a entender a música radical de Coleman. Fez turnês com ele até 1961, deixando memoráveis discos pela gravadora Atlantic. Nos anos 60 fez parte da Jazz Composers’ Orchestra Association. Em 1969 já formava sua Liberation Music Orchestra, um conjunto que tinha como bandeira denunciar a injustiça social e a repressão política. “Essa banda foi formada para permitir ao artista gritar com sua arte contra a Guerra do Vietnan que arrasava os Estados Unidos”, afirma Haden.
Até 1975 tocou com o pianista Keith Jarrett. Entre 1982 e 1983 realizou trabalho em trio com o saxofonista norueguês Jan Garbarek e com o multinstrumentista brasileiro Egberto Gismonti, resultando em dois dos melhores discos da gravadora alemã ECM (ver discografia). Em 1982 ele criou o programa de jazz no California Institute of the Arts, em Valencia. Levou importantes músicos para realizar cursos e transformou o instituto num dos principais centros de pesquisa e estudo do jazz nos Estados Unidos.
Em 1986 criou o Quartet West, com Alan Broadbent (arranjador de Woody Herman e do grupo) no piano, Ernie Watts (um dos poucos saxofonistas que não foi influenciado pelo bebop), no sax tenor e Billy Higgins, na bateria. Logo após o primeiro disco, Billy Higgins foi substituído por Larance Marable (músico de Bud Powell e Charlie Parker). O grupo, que gravou premiados discos, é uma dos raros conjuntos no jazz que permanece se apresentando juntos aos longo dos anos, apesar de todos seus integrantes desenvolverem suas carreiras individuais. Haden trata a banda como muito carinho: “Nós estamos desenvolvendo intuitivamente nosso sentimento musical e espiritual. Um som que vem se aperfeiçoando ao longo do tempo. Hoje muitos discos são gravados por all-stars bands que não permanecem tempo suficiente juntos para desenvolver um trabalho com maior identidade” Ele credita à sua esposa Ruth Cameron a força para concepção e continuidade do grupo que incorporou as músicas que lhe inspiravam nos anos 40 e 50. “Alguns críticos associam a música do Quartet West com uma linha nostálgica. Isso acontece porque são selecionadas músicas bonitas, independente da época que elas foram criadas”, ressalta Haden.
Em 1989 foi realizada a mais importante homenagem a um músico no Festival de Jazz de Montreal, no Canadá. Foram oito dias de concerto em tributo a Haden, que se apresentou com diversos instrumentistas. Esses espetáculos estão sendo transformados em discos pela gravadora Verve.
Em 1995 escreveu um editorial publicado na Revista Billboard sobre a necessidade do suporte do governo americano às artes. Esse texto havia sido submetido aos grandes jornais e revistas americanos (Newsweek, The New York Times e Washington Post). Haden queria que a indústria da música tomasse conhecimento de seus pensamentos. Em seu artigo ela afirmava que até no Nazismo Alemão, tudo era discutido em clubes de jazz e que a arte e a liberdade tinham laços inquebráveis e inexplicáveis.
Em sua serenidade e humildade, Charlie Haden foi um dos músicos mais requisitados nos estúdios americanos. Deixou seu trabalho com seu grupo Quartet West, com a Liberation Music Orchestra e desenvolveu seu inigualável projeto de gravação de discos em duo com grandes nomes da música instrumental internacional. Participou também como sideman em diversos grupos de jazz, pop e blues.
Faleceu aos 76 anos, em Los Angeles, no dia 11 de julho de 2014, depois de lutar contra os efeitos degenerativos da síndrome pós-pólio, relacionado com a poliomielite que contraiu na juventude
Um Novo Conceito de Contrabaixo
Charlie Haden revolucionou o conceito de harmonia do baixo no jazz. Foi um dos poucos baixistas a realizar um trabalho consistente trocando harmonias pré-estabelecidas por outras não usuais com melodias independentes. Alguns não consideram Haden tenha sido um virtuoso do instrumento. Eu discordo. Haden foi, sim, um virtuose. E mais do que isso, ele colocou o baixo acústico em evidência, tirando da "cozinha" e colocando na "sala". Com ele executando seu instrumento, o ouvinte percebe com absoluta clareza a sua presença e a sua importância na melodia. Isso porque Haden tinha sua "voz" musical. Seus acordes no baixo são facilmente identificáveis, após algumas poucas audições mais atentas. Claro que isso não é um privilégio único de Charlie Haden. Todos os músicos que descobrem sua própria “voz” em seus instrumentos geralmente têm o mesmo resultado. No jazz temos vários exemplos.
Infelizmente, hoje, este potencial está cada vez mais raro no mundo musical. Há uma tendência, na minha opinião, prejudicial ao desenvolvimento da música, onde os novos músicos seguem tendências previamente definidas. E aqui temos toda a questão comercial que vou me isentar de comentar para não abrir uma discussão sem fim: O que é a boa música ? É a que vende mais ? Pra nós, mais aculturados, fica fácil responder. Mas faça essa pergunta a um cidadão mais humilde, ou menos privilegiado socialmente. A resposta com certeza será oposta a minha. Esqueça, por enquanto, essa polêmica. Isso é assunto para uma próxima matéria. Quando perguntavam a Haden sobre esses novos músicos no jazz, os chamados young lions, ele declarava que existiam inúmeros valores novos que estavam desenvolvendo um trabalho de altíssimo nível e destacava Joshua Redman (saxofonista), Christian McBride (baixista) e o cubano Gonzalo Rubalcaba (pianista), além, claro de seu ídolo Pat Metheny (guitarrista).
Infelizmente, hoje, este potencial está cada vez mais raro no mundo musical. Há uma tendência, na minha opinião, prejudicial ao desenvolvimento da música, onde os novos músicos seguem tendências previamente definidas. E aqui temos toda a questão comercial que vou me isentar de comentar para não abrir uma discussão sem fim: O que é a boa música ? É a que vende mais ? Pra nós, mais aculturados, fica fácil responder. Mas faça essa pergunta a um cidadão mais humilde, ou menos privilegiado socialmente. A resposta com certeza será oposta a minha. Esqueça, por enquanto, essa polêmica. Isso é assunto para uma próxima matéria. Quando perguntavam a Haden sobre esses novos músicos no jazz, os chamados young lions, ele declarava que existiam inúmeros valores novos que estavam desenvolvendo um trabalho de altíssimo nível e destacava Joshua Redman (saxofonista), Christian McBride (baixista) e o cubano Gonzalo Rubalcaba (pianista), além, claro de seu ídolo Pat Metheny (guitarrista).
A Parceria com Pat Metheny
Uma dos mais promissores trabalhos, dentre muitas formações que Haden desenvolveu, é aquele realizado ao longo dos anos com o Pat Metheny. Uma mútua admiração iniciada na época do Ornette Coleman, quando Pat viu Charlie Haden tocando pela primeira vez. Depois encontraram-se em concertos diferentes num mesmo local. Charlie tocava com Keith Jarrett e Pat tocava com Gary Burton. Em 1979 acabaram desenvolvendo o primeiro projeto juntos, o antológico disco duplo “80/81”. Desenvolveram depois o projeto do álbum “Song X”, desta vez juntos com Coleman, hoje um antológico disco.
Haden já tocou com inúmeros guitarristas, mas declarou sua preferência por Pat pela originalidade em sua melodia. Considerava Pat Metheny um dos seus mais próximos amigos. O resultado desse mútua admiração resultou no mais belo disco de suas histórias, “Beyond The Missouri Sky”, ganhador do Grammy. Segundo Haden, esse disco marcou muito sua carreira porque ele conseguia fazer aquilo que busca em cada concerto, sensibilizar alguém ainda não sensibilizado pela magia da música: “Estou sempre querendo mostrar o quanto uma pessoa pode mudar ao apreciar a música ou qualquer outro tipo de arte”.
Haden já tocou com inúmeros guitarristas, mas declarou sua preferência por Pat pela originalidade em sua melodia. Considerava Pat Metheny um dos seus mais próximos amigos. O resultado desse mútua admiração resultou no mais belo disco de suas histórias, “Beyond The Missouri Sky”, ganhador do Grammy. Segundo Haden, esse disco marcou muito sua carreira porque ele conseguia fazer aquilo que busca em cada concerto, sensibilizar alguém ainda não sensibilizado pela magia da música: “Estou sempre querendo mostrar o quanto uma pessoa pode mudar ao apreciar a música ou qualquer outro tipo de arte”.
O Respeito à Música e ao Músico
Charlie Haden realizou turnês em quase todos os clubes americanos de jazz, principalmente em grandes cidades dos Estados Unidos. Mas declarou-se cansado de ouvir as pessoas andando no ambiente, sons de copos e talheres misturados aos seus acordes. “Pavarotti nunca tocaria no Sweet Basil, em Nova York. O pianista Polline nunca faria um recital no Jazz Showcase, em Chicago. Sei que eles são grandes clubes de jazz e que fazem parte da própria história da música, como na época da 52nd Street, do Clube The Onyx, do famoso Three Deuces ou do Birdland. Mas as pessoas precisam começar a pensar em jazz como música de concerto, executada em teatro, com melhor acústica, melhor conforto para a platéia”, declarou um pouco magoado. “Um dos primeiros concertos de jazz que vi foi o Benny Goodman tocando no Carnegie Hall.
Ele não tocava muito em night clubs, preferia as universidades e as salas de concerto dos teatros, justificando que sua busca por espaços dignos não é uma novidade. Haden defendia que o mundo precisava de concertos acústicos. “É um prazer inigualável ouvir alguém tocar seu instrumento. Você surpreende-se cada vez que vê e ouve um Charlie Parker, Coleman Hawkins ou Sonny Rollins tocando aquelas máquinas de metal e tirando uma música que alcança sua alma. É um fenômeno fazer aquelas máquinas funcionarem daquela forma”, ressaltou o baixista. Essa é a música que tem alta qualidade porque o músico dedica sua vida a ela. Independente de ficar rico ou não, de ficar famoso ou não. Esses são os verdadeiros heróis da música, artistas que fazem do instrumento uma parte de seu próprio corpo. E é esse músico que precisamos aprender a ouvir, respeitar, estimular.
Ele não tocava muito em night clubs, preferia as universidades e as salas de concerto dos teatros, justificando que sua busca por espaços dignos não é uma novidade. Haden defendia que o mundo precisava de concertos acústicos. “É um prazer inigualável ouvir alguém tocar seu instrumento. Você surpreende-se cada vez que vê e ouve um Charlie Parker, Coleman Hawkins ou Sonny Rollins tocando aquelas máquinas de metal e tirando uma música que alcança sua alma. É um fenômeno fazer aquelas máquinas funcionarem daquela forma”, ressaltou o baixista. Essa é a música que tem alta qualidade porque o músico dedica sua vida a ela. Independente de ficar rico ou não, de ficar famoso ou não. Esses são os verdadeiros heróis da música, artistas que fazem do instrumento uma parte de seu próprio corpo. E é esse músico que precisamos aprender a ouvir, respeitar, estimular.
Subvenção e Apoio Financeiro às Artes
Charlie Haden defendia o incentivo às artes por parte dos governos e empresários, em seus diversos níveis. Mas achava necessária também uma flexibilidade por parte dos músicos na definição dos seus cachês “Os artistas precisam negociar seus cachês para diferentes cidades, visando a formação de uma platéia para seu produto. Claro que cidades pequenas não têm o mesmo público das tradicionais. Isso acontece nos Estados Unidos e em qualquer lugar do mundo. Existe uma diferença entre aquilo que realmente vale e aquilo que é popular”. No mundo todo existem aqueles grupos musicais que têm o apoio da mídia, por questões puramente comerciais, como também existem aqueles que necessitam de apoio, até para poder fazer o contraponto aos trabalhos impostos pelo sistema. O próprio Charlie Haden, quando viajava com o Quarteto West, recebia, via promotores, incentivos dos governos e empresas locais. De outra forma não seriam viabilizadas inúmeras atividades artísticas. Haden já tinha recebido, inclusive bolsa de pesquisa da Fundação Guggenheim como compositor. Fez também algumas turnês financiadas com fundos públicos. A turnê da Liberation Music Orchestra, por exemplo, pela costa leste dos Estados Unidos foi bancada pelo Fundo Wallace. “Nós utilizávamos ainda coros locais, financiados pelos governos municipais. Uma turnê desse porte envolve muitos músicos e sem um apoio mais concreto em termos financeiros ela se torna inviável”, defendia Haden.
Essa é uma questão que merece páginas e páginas. Sempre muitos defendendo e outros tantos atacando. Vem aquela máxima: ora se o público não quer comprar o ingresso por que o governo deve dar um incentivo para ele comprar ? O problema não é tão simples assim. Existe uma parcela da população que não compra porque não pode. Outra que não compra porque não gosta. Mas grande parte dessa parcela que não gosta, nem conhece o que não gosta. A indústria tem colocado à disposição do público, de maneira geral, produtos culturais (se é que podemos chamar assim !) de consumo rápido, descartáveis. Claro, para daqui alguns dias colocar outro produto no mercado, e outro. Este processo está nivelando a cultura. Só que nivelando por baixo, pelo de mais fácil produção, pelo de mais fácil manipulação. Do lado do músico, como Charlie Haden e outros, ele precisa descobrir seu próprio caminho, criando sua própria identidade e não ficar sempre esperando com “de pires na mão”. Os estilos musicais “não populares” sempre serão músicas de minoria, mas executadas por músicos extremamente convictos do que querem fazer.
Essa é uma questão que merece páginas e páginas. Sempre muitos defendendo e outros tantos atacando. Vem aquela máxima: ora se o público não quer comprar o ingresso por que o governo deve dar um incentivo para ele comprar ? O problema não é tão simples assim. Existe uma parcela da população que não compra porque não pode. Outra que não compra porque não gosta. Mas grande parte dessa parcela que não gosta, nem conhece o que não gosta. A indústria tem colocado à disposição do público, de maneira geral, produtos culturais (se é que podemos chamar assim !) de consumo rápido, descartáveis. Claro, para daqui alguns dias colocar outro produto no mercado, e outro. Este processo está nivelando a cultura. Só que nivelando por baixo, pelo de mais fácil produção, pelo de mais fácil manipulação. Do lado do músico, como Charlie Haden e outros, ele precisa descobrir seu próprio caminho, criando sua própria identidade e não ficar sempre esperando com “de pires na mão”. Os estilos musicais “não populares” sempre serão músicas de minoria, mas executadas por músicos extremamente convictos do que querem fazer.
Ensino e Formação do Músico
Na sua atividade de ensino ele sempre dizia para os estudantes que se eles queriam ser grandes músicos primeiro eles deviam ser grandes seres humanos. “Você precisa aprender a sentar-se na frente de um amigo com problemas, esquecer os seus e tentar ajudá-lo. Isso é humildade”, enfatizava Haden, que sempre tentou passar esses ensinamentos para seus alunos. Haden desenvolvia, sempre que tinha oportunidade, oficinas de jazz nas cidades onde se apresentava, chamando os jovens músicos e levantando pontos essenciais para o aprendizado musical. Ele estimulava a execução de instrumentos sem equipamento de som. Como, em geral, todos estão acostumados ao som muito alto, pela música pop, pelo rock’n’roll, pela música no cinema, ele abre os ouvidos dos seus alunos para a necessidade de ouvir a montanha, ouvir o sol, ouvir as nuvens, ouvir o vento. “É necessário ouvir os sons naturais que estão em sua volta. Isso é ouvir o som da vida, o som do universo. Eu tento trazer esse som para minha música e mostrar aos meus alunos”.
Músico, Humanista e Poeta
Músico, compositor, professor, humanista e romântico, posturas às vezes consideradas fora de moda, Charlie Haden foi até preso em Portugal em 1971, depois de um concerto em favor da liberdade de Angola e Moçambique, depois de executar o belíssimo tema “Song for Che”. Essas características acompanharam a carreira desse “old lion” da música americana. Seus discos comprovam facilmente essa marca. Seja tocando spirituals e gospels com Hank Jones, ou executando a belíssima versão do tema do Congresso Nacional Africano, com sua Liberation Orquestra. Tocando “Women’s Hymn” um tema sobre o Movimento Anarquista Feminino durante a Guerra Civil da Espanha. Apresentando “Rabo de Nube”, do seu poeta cubano favorito Silvio Rodriguez. Compondo a canção “Spiritual”, uma homenagem a Martin Luther King e a Malcom X. Solando seu instrumento em inúmeras versões de sua música “Silence”, quando ele faz você ouvir sua própria alma. Improvisando com o piano de Kenny Barron o standard “Body and Soul”. Tocando aquele blues característico do Delta do Rio Mississippi, com hinos de lamento da comunidade afro-americana. “Quando eu estou tocando sei que é o único momento da vida que vale a pena. Naquele momento, não existe ontem nem amanhã, só existe agora.” Por todos esses detalhes e pela sua magnífica obra ouso chamar Charlie Haden de “poeta do jazz”.
Bem Ditos de Haden
“A música ensinou-me principalmente a fraternidade.”
“Para ser um grande músico é preciso ser antes um grande ser humano.”
“O segredo para fazer música com força e beleza é ter humildade.”
“Não existe uma pessoa que toca uma música do mesmo jeito de outra, da mesma forma que não existe uma pessoa com a mesma impressão digital de outra.”
26 nov. 2022
“Para ser um grande músico é preciso ser antes um grande ser humano.”
“O segredo para fazer música com força e beleza é ter humildade.”
“Não existe uma pessoa que toca uma música do mesmo jeito de outra, da mesma forma que não existe uma pessoa com a mesma impressão digital de outra.”
26 nov. 2022